sexta-feira, 29 de abril de 2011

Trechos de Meditações - de Marco Aurelio

O imperador Marcus Aurelius nasceu no ano de 121 da Era Cristã. Assumiu o trono em 161, mantendo-o até 180 ao morrer em campanha. Filho de Marcus Anius Verus e Domitia Lucila, com a morte paterna foi criado e educado pelo avô Marcus Anius Verus (sic). Juntamente com Lucius Verus (130/169) foi adoptado pelo imperador Antoninus Pius. Eis aqui uma tradição iniciada por Augustus, de adopção e preparo do herdeiro do trono. Por conta da paternidade adoptiva, encontrei grande disparidade de nomes do imperador filósofo. Os mais estáveis foram Marcus Aelius (diz-se “Élius”) Aurelius Verus por nascimento e Marcus Aelius Aurelius Antoninus pela filiação legal. Como conseqüência da perfilhação tornou-se um dos “Antoninos”, dinastia imperial reinante de 96 a 192, formada, além d’ele, pelos imperadores Nerva, Trajanus, Adrianus, Antoninus, Verus e Commodus.
TRECHOS DO LIVRO
De Vero,  meu avô, a honradez e serenidade. (273)
De meu irmão Severo, o amor à família, à verdade e à justiça (274)
De meu pai, a placidez e a firmeza inabalável nas decisões, fundadas em exames acurados; a indiferênca para com a vaidade de supostas honrarias; o amor ao trabalho e a perseverança; escutar as pessoas capazes de alguma contribuição para o bem comum; a experiência de quando apertar e quando afrouxar;...  ainda, a afabilidade, a amabilidade não fastidiosa...; o não ter muitos segredos; a prudência e o comedimento...;  força e firmeza.
Livro II. 1. Previne a ti mesmo ao amanheccer: “vou encontrar um intrometido, um mal-agradecido, um insolente, um astucioso, um invejoso, um avaro”. Eles devem todos esses vícios à ignorância do bem e do mal.....
15. convença-te... Tudo é opinião
16.... A finalidade dos viventes racionais é obedecer à razão e às leis da mais venerável das cidades e repúblicas.
Livro III.  3... Os vermes mataram Demócrito e vermes de outra espécie a Sócrates.
6. Se encontrar na vida humana um bem mais valioso do que a justiça, a verdade, a temperança, a coragem, em suma, a satisfação de tua inteligência, de um lado consigo mesma, por prover a que sigas em teus atos a razão reta, e de outro com o teu destino, nos quinhões independentes de teu arbítrio – se divisas, digo, um bem mais valioso, entrega-te a ele de todo coração e desfruta essa ventura suprema que descobriste.
7. Jamais aprecies como proveitoso para ti o que algum dia te obrigue a trais  a tua fé, a renunciar ao teu pudor, a odiar, suspeitar, maldizer alguém, a  fingir, a apetecer o que haja mister de paredes e resposteiros.....
Durante a vida toda não terá outra cautela senão a de preservar sua inteligência de toda alteração imprópria do animal racional e social.
10. Recusa tudo mais e retém apenas esses poucos ditames; lembra, ainda, que cada um vive apenas o presente momento infinitamente breeve. O mais da vida, ou já se viveu ou está na incerteza.
12. Se cumprires o dever do momento seguindo a reta razão com zelo, com vigor e de boa vontade, sem intenções secundárias, conservando, porém, em permanente pureza o teu nume, como se estivesses em via de restituí-lo: se a isso ligares a observância do preceito de nada eperar nem evitar, e sim contentar-te da presente atividade conforme com a natureza e da veracidade dos tepos heróicos em tudo quanto disseres e falares, terás vivido feliz. E não há ninguém capaz de impedi-lo.
16. corpo, alma, mente. Do corpo são as sensações; da alma, os instintos; da mente, os princípios.
LIVRO IV – 2. Nada executes ao caso, nem de maneira diversa dos princípios que integram a arte... A lugar nenhum se recolhe uma pessoa com mais tranquilidade e mais ócios do que na própria alma, sobretudo quando tem no íntimo aqueles dons sobre os quais basta inclinar-se para gozar, num instante, de completo conforto; por conforto  não quero dizer senão completa ordem.... Com efeito, com o que te irritas? Com a maldade humana? Reaviva o juízo de quem os viventes racionais nasceram uns para os outros; que a paciência é uma parte da justiça; que não pecam por querer; que tantos já, após ódios ferrenhos, suspeitas, rancores, jazem transpassados pela lança e reduzidos a cinza; e sossega, enfim.
... Sê livre e encara as coisas como um varão, como um ser humano, como um cidadão, como um vivente mortal...
O mundo é mudança; a vida, opinião.
4. Tal qual o nascimento, a morte é um mistério da natureza.
17. Não procedas como se houvesse de durar dez milênios; o fim inevitável pende sobre ti; enquanto vives, enquanto podes, tornaa-te um bom.
26. A vida é breve; é mister desfrutar o presente com prudência e justiça. Sê sóbrio folgando.
31. Estima o pouco de ciência que aprendeste e descansa. Passa o resto da vida como quem confiou aos deuses, de todo coração, tudo que é seu e não fez nenhum homem seu tirano nem seu escravo.
41. “És uma almazinha carregando um cadáver”, dizia Epicteto.
43. O tempo é um rio formando pelos eventos, uma torrente impetuosa.
445. Há sempre afinidade entre o que sucede  e o que precede...
Livro VI – 21. Se alguém pode confundir-me e provar que estou errado em minhas opiniões ou atos, eu mudarei com prazer. Procuro a verdade; ela jamais causou dano a ninguém; dano sofre quem persiste no seu engano e ignorância.
22. Eu cumpro o meu dever. Os outros seres não me inquietam; ou são inanimados, ou irracionais, ou vagantes que desconhecem o caminho.
30. Cuidado para não te cesarizares, para não te imbuíres; isso costuma acontecer. Preserva-te simples, bom, puro, grave, desafetado, amigo da justiça, piedoso, benévolo, afetuoso, firme no cumprimento do dever. Luta por permaneceres tal qual te quis formar a Filosofia. Venera os deuses, socorre os homens..
A vida é breve; fruto único da existência sobre a terra são os sentimentos santos e a prática do bem comum.
38. Reflete amiúde na ligação e relação mútua de tudo que há no mundo. De certo modo, todas as coisas estão entretecidas e , por esse motivo, são amigas umas das outras; com efeito, uma se segue à outra graças à coordenação do movimento e ao concerto, bem como à coesão da substância.
39. Ajusta-te às coisas cujo destino é ligado ao teu; estima os homens cuja sorte está unida à tua; porém, com sinceridade.
44. Ora, o interesse de cada um vai com sua constituição e natureza; a minha é racional e social. Como um Antonino, minha cidade e minha pátria é Roma; como homem, o mundo. Logo, só é um bem para mim o que for útil a essas cidades.
51. Quem ama a glória situa o seu bem numa atividade alheia;  quem ama o prazer, em suas próprias sensações; quem tem inteligência, em seus próprios atos.
53. Habitua-te a dar plena atenção ao que outrem diz e, quanto possível, penetrar na alma de quem fala.
LIVRO VII - 28. Recolhe-te em ti mesmo; o guia da razão, por sua natureza, a si mesmo se basta quando pratica a justiça e por isso mesmo desfruta de calma.
31. Exorna-te com a simplicidade, com o decoro  e com a indiferença a quanto está situado entre a virtude e o vício. Ama o gênero humano. Toma um deus como teu guia.
59. Cava fundo; no fundo está a fonte do bem, capaz de jorrar perenemente, basta que não pares de cavar.
LIVRO VIII – 54. Não se limite a respirar om os outros o ar circundante, mas doravante pensa em conjunto com a inteligência que tudo envolve; a força intelectiva está tão derramada em toda parte e tão distribuída a quem pode servê-la quanto o ar  a quem pode aspirar.

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